(texto inicialmente publicado no Facebook, a 18 de Abril de 2021)
– Vá… os festeiros estão a chamar, temos que ir dar entrada!
Estávamos em 1997 ou 98 e o professor Lino Pinto, à época meu professor de Formação Musical, maestro da Orquestra de Sopros do Conservatório de Gaia e da Banda Musical de Avintes, convidou-me para ir fazer um serviço com esta última.
A dada altura, senta-se ao meu lado e coloca na estante uma partitura manuscrita pela inconfundível caligrafia musical de Amílcar Morais: “1989 – Tempo de passo dobrado”.
– Passo dobrado? – pergunto eu.
– Pasodoble… é a mesma coisa.
Tocamos isto em palco mas, tempos depois, este “pasodoble” chegava às cadernetas da banda de Crestuma, para ser tocado na rua.
Desde essa altura, o “89”, esteve presente em todas (não é exagero) as festas que terei feito até hoje. Se não fosse a banda onde estava a tocar, era a outra. Toda a gente (não é exagero) toca isto.
A marcha, segundo o próprio Amílcar Morais, foi escrita em homenagem a uma determinada época da banda 12 de Abril. Contudo, há quem diga já ter ouvido a sua inconfundível melodia sob outro título.
Polémicas à parte, penso eu que o sucesso desta peça se deve, sobre tudo, à sua estrutura e orquestração totalmente diferentes daquilo que são as tradicionais marchas de rua portuguesas.
A começar pela imponente entrada, a linha dos baixos a fazer lembrar o Kanimambo do João Maria Tudela, os “breaks” rítmicos da secção central. Tudo assente em melodias simples e orelhudas. Como já foi dito por aqui, a boa música não precisa ser complicada.