(texto inicialmente publicado no Facebook, a 6 de Junho)
Como já tive oportunidade de referir, gosto muito do Nelson Jesus enquanto compositor, por três motivos:
1º – Por inspirar as suas obras na tradição e raízes filarmónicas
2º – Por, ao mesmo tempo, ser inovador, sempre com critério.
3º – Pela imensa criatividade
A Banda Marcial de Fermentelos celebrou o seu 150º aniversário, pedindo a alguns compositores portugueses para comporem uma obra a assinalar a efeméride.
Nelson Jesus escreveu o fantástico “1868”, descrito desta forma pelo próprio:
“*1868 – A Banda Marcial de Fermentelos tem para mim a virtude de ser um agrupamento musical de grande versatilidade. Tanto é uma banda de forte tradição e bem enraizada no seio das melhores festas e romarias do país, como se sente à vontade nos mais exigentes palcos de concerto. Pegando na ideia do reportório tradicional, resolvi escrever um “calhau”.
O “calhau” é aquela peça antiga, cheia de notas, de papel amarelo! São as transcrições de aberturas de ópera e andamentos de
sinfonias da época romântica (altura da fundação da BMF). Esta peça é baseada em texturas e cores de algumas obras compositores da referida época revisitada. A orquestração tem por base as antigas transcrições em detrimento dos sons mais puros. Sentimos Korsakov, as madeiras dedilham Lizst, os metais cantam Wagner e Bruckner. Tchaikovsky é um ponto obrigatório nesta viagem, até na ideia do nome, ou não fosse a sua abertura “1812” uma peça obrigatória em qualquer arquivo das bandas do Norte.
A secção central da obra tem um aroma a fado e relembra a saudade da época de forte emigração para a América do Sul que tanto afectou a BMF. O hino da Marcial é escutado por diversas vezes. A peça termina com um Allegro Marcial, justificado no nome que a banda carrega, marchando em triunfo até ao final, até outros 150 anos.”
Já tive a honra de a tocar e confirmo tudo.
E aqui está o exemplo de uma obra “de concerto” que também é “de arraial”. Um “calhau” do século XXI.
Como não poderia ser de outra forma, Banda Marcial de Fermentelos, dirigida pelo Maestro Hugo Oliveira.